VI
Continuamos insistentemente a pelejar em frente do espelho, reproduzindo em diminuta escala os sentimentos mais masoquistas que alguma vez comentámos nos outros. Estamos aturdidos, Joanna. Pela aleatoriedade que a junção dos nossos olhos, no rescaldo do silêncio, encerrara nos meus braços, articulações da mais cavada dor. Fingimos que o que casualmente nos afasta os olhos, os silêncios, não tem importância. Mas, no fundo, tem a importância máxima de não lhe confiarmos intrepidez alguma. De, sem sequer lhe fixar a frontaria ao meio, lhe desprezar o valor externo. Interno a nós dois.
Queremos ser felizes, Joanna, sempre o quisemos. Os obstáculos impedem-nos de ver que aquilo a que não vamos dando importância pode, quando o caminho não o denunciar, não nos dar importância alguma. Ainda não temos a arte de pressagiar o incerto, nem ver o que está oculto. Mas a latência pressupõe, afinal, a existência.
O que de mais rasteiro me fala cá dentro é ver que nenhum dos corpos com mente, que são quase todos os nossos amigos, nos acompanha nesse teu ser feliz. Nem, ainda pior, no meu querer ser feliz. Todos eles nos desaparecem do raio que os nossos quatro braços desenham à minha volta, das mãos, da vista, da cabeça. Parece que vão todos para casa, escondendo aquilo que não foi criado para disfarce. Não consigo saber, convicto, o que está verdadeiramente certo. Se eles, que desistem do querer, se nós que acreditamos num querer fantasma. Não sei.
Ofereço-te os poemas que me mostraram o teu caminho, vieram comigo, são hoje como minhas mãos.
Gostava tanto de saber a verdade das coisas. Assim como pensamentos acabados e inertes. A lua descia até mim, um parque de relva e de pessoas, e eu imaginava que a minha terra era o teu chão. A minha alma era propriedade tua. Tomara eu, Joanna, conseguir pertencer a mim mesmo.
jtf